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Rede Audio-Visual / Liberdade e Democracia

Conferência de Imprensa na Associação 25 de Abril, 20 Outubro 2015
Respeite-se o Voto: Queremos um Governo de Esquerda

Movimento por um Governo de Esquerda exige o respeito pelo voto dos Portugueses

Filomena Viegas
RAV - Liberdade e Democracia


Num momento chave para democracia portuguesa realizou-se no dia 20 de Outubro ao fim da tarde em Lisboa, uma conferência de imprensa sobre o tema «Respeite-se o voto. Queremos um Governo de Esquerda», organizada por uma plataforma (esquerda.link) de antigos dirigentes estudantis, que apelam ao entendimento dos grupos parlamentares de esquerda para a formação de um governo de maioria.

A Associação 25 de Abril abriu as portas à iniciativa, disponibilizando as suas instalações. O anfitrião foi o Coronel Vasco Lourenço, um dos "Capitães de Abril", e Presidente da A25A, que deu início à conferência de imprensa com uma saudação aos promotores e aos participantes, «Sejam bem-vindos a esta vossa iniciativa, sintam-se em vossa casa».

A conferência de imprensa surgiu na sequência da tomada de posição de líderes do movimento estudantil da década de 70, que lutaram desde então pela liberdade e pela democracia; e que, em conjunto com outras gerações mais jovens, formaram um grupo de reflexão politica e intervenção cívica, e entenderam expressar-se publicamente sobre os resultados das eleições do passado dia 4 de Outubro. Lançaram assim um apelo aos cidadãos democratas, que queiram subscrever este documento, que circula na internet.

A sala encheu-se e a conferência de imprensa foi muito dinâmica, transformando-se numa sessão de debate vivo e animado. Para além dos jornalistas presentes, os participantes manifestaram interesse e vontade em participar de uma forma ativa, interpelando a mesa e expressando as suas opiniões.

Na apresentação dos subscritores que integraram a mesa, foram revelados alguns aspetos da sua atividade política estudantil, em tempos de resistência: José Carlos Gomes, (antigo dirigente associativo do ensino secundário, preso e interrogado pela PIDE), Pedro Ferraz de Abreu, (ex-dirigente da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa, forçado à clandestinidade por vários mandatos de captura da PIDE), Glória Ramalho, (a primeira mulher no cargo de presidente de uma de associação de estudantes em Portugal, na Faculdade de Ciências de Lisboa, foi presa e torturada e acabou por ser expulsa da faculdade por repressão política), Vasco Lupi da Costa (um dirigente do Cineclube Universitário de Lisboa, refugiado politico) e Olga Moura (dirigente da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências, presa pela PIDE).

José Carlos Gomes começou por salientar o momento histórico e afirmar que «ao fim de quarenta anos, é chegada a hora de tentar fazer de Portugal uma sociedade mais justa, mais equilibrada ... deixando para traz uma série divergências» e formar «um governo de esquerda, que possa mudar o país». Ironizou ainda estar a direita a assumir o papel de «guardiã da ortodoxia dos partidos de esquerda», para tentar dividi-la.

Glória Ramalho expôs as razões que levaram à tomada de posição, afirmando que existem condições para a mudança, dado que o resultado das eleições conferiu uma maioria de votos e de deputados aos partidos de esquerda: PS, PCP, BE. Sublinhou que durante a campanha eleitoral, houve de facto «uma linha comum» entre estes partidos, de rejeição das políticas levadas a cabo durante os últimos quatro anos, por parte da coligação do PSD/CDS.

Afirmou também que, ao contrário do que a direita pretende fazer crer, os votos são todos iguais, e se existe uma maioria de votos e de deputados do PS, BE e PCP, e se estes partidos se estão a entender, deve-se respeitar essa maioria. Salientou igualmente que, embora a responsabilidade para o entendimento entre eles, seja em primeira mão, das direções dos partidos e dos seus militantes, cabe a todos os cidadãos zelar pelo cumprimento desse entendimento e fazer ouvir a sua voz.

Pedro Ferraz de Abreu afirmou que «os partidos políticos têm o palco que devem ter e cabe aos partidos a responsabilidade de se entenderem e de formarem governo, mas nós temos a nossa responsabilidade de ajudar, de ser um fator de conciliação, de facilitação no entendimento à esquerda e de firmeza contra as pressões da direita.»

Desmistificou algumas frases feitas sobre as garantias de estabilidade de governação, referindo com algum humor que Portugal teve estabilidade em quarenta e oito anos de ditadura, que resultaram na miséria, e por isso é preciso apostar na mudança.

Prosseguiu com uma análise de quatro pilares institucionais da democracia, em relação aos quais os cidadãos devem estar atentos e ser proactivos: a Presidência da República, a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais. E em relação à atuação do Presidente da República, lançou um desafio, que recebeu o aplauso dos presentes: «se porventura ele se atrever a inventar adaptações constitucionais para rejeitar a formação da alternativa de governo, que tenha o apoio da Assembleia da República, vamos a Belém, frente ao palácio e não saímos de lá enquanto não for respeitada a Constituição.»

Ferraz de Abreu teceu ainda fortes críticas à atuação dos media, por falta de imparcialidade, afirmando que nem sequer nos tempos da ditadura se viu tanto sectarismo e controle politico descarado como agora, embora existam jornalistas com coragem. E lançou outro desafio: «Numa Democracia é fundamental a liberdade de expressão e de opinião e o apelo é para que haja pro-atividade: Não se fiquem!»

F.V. / RAV-LeD

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